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Combate ao assédio no meio acadêmico

Atualizado: 27 de ago de 2019

Imagine um estudante que apresenta um poster em uma reunião científica, feliz, quando um cientista sênior pára para ver o seu trabalho. Considerando a contínua sub-representação de mulheres em altos níveis da academia, são boas as chances que o cientista seja do sexo masculino.

Se o estudante também é do sexo masculino, ele provavelmente não tem dúvidas de que o cientista quer saber mais sobre a sua pesquisa. Se a aluna é do sexo feminino, ela pode se perguntar: “será que ele quer se familiarizar com o meu trabalho, ou comigo”?

Este é o cenário que Meg Urry da Universidade de Yale, atual presidente da American Astronomical Society, expôs durante uma sessão sobre ética denominada “Qual o papel das sociedades científicas em resposta ao assédio e outras questões no local de trabalho?” durante a Reunião da União Americana de Geofísica em dezembro de 2015.

As Sociedades científicas têm uma responsabilidade intrínseca a este respeito. Elas patrocinam reuniões, workshops, conferências, viagens de campo, e outros eventos que colocam os cientistas em estreita proximidade por longas horas em ambientes incomuns.


 
Meg Urry falou sobre a responsabilidade das sociedades científicas na tomada de medidas em consequência do escândalo Geoff Marcy*, além dela, outros oradores deram excelentes sugestões para a promoção de um ambiente livre de assédio.

“Sociedades científicas precisam divulgar amplamente suas políticas que declaram intolerância para o assédio de qualquer espécie e as consequências em caso de transgressões dessas regras. Expulsão da sociedade? Dos eventos? Impedimento de bolsas e medalhas de honra? Impedimento de publicar em revistas da sociedade?

Tais ações podem limitar o avanço profissional, especialmente quando o empregador institucional é lento ou de alguma forma impedido de tomar medidas concretas”.

Urry atribui a responsabilidade diretamente sobre cientistas seniores para as consequências de eventuais relações pessoais que se desenvolvam com os alunos, porque é sempre o aluno que paga o preço profissional, quando tais relações se desintegram.


 
Ela sugeriu que a menos que o cientista esteja disposto a mudar de instituição, a fim de evitar uma situação desconfortável para o aluno caso o relacionamento se dissolva, não se envolver com alunos.

Muitas universidades proíbem expressamente qualquer relação entre professores e alunos de graduação.

Após as apresentações foi aberto para outras falas, a mais perturbadora foi de uma estudante estrangeira, que foi estudar nos Estados Unidos, relatando o comportamento de um colega.

Ela aproveitou-se de canais formais de sua instituição para levantar uma queixa, mas lhe disseram que ela deve ter interpretado mal o comportamento de seu colega, por causa de sua falta de familiaridade com a língua e a cultura do país.

Como seu domínio de Inglês é excelente, ela perguntou se ela deveria gravar as conversas futuras para provar suas afirmações. Recebeu como resposta que seria ilegal!

Esta experiência ilustra a batalha contínua que as mulheres enfrentam para que suas preocupações e inquietações sejam tratadas com seriedade.

*Geoffrey Marcy teve o seu nome envolvido num escândalo de assédio sexual de pelo menos quatro antigas alunas suas na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, o que o obrigou a demitir-se tanto do cargo de professor como de investigador principal de um projeto multimilionário de procura de vida fora da Terra.

Texto original publicado no site da Revista Science.