A saúde mental de doutorandos na Austrália: o que um novo estudo nos revela
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A vida de quem faz pós-graduação costuma ser marcada por desafios intensos — prazos apertados, cobranças internas e externas, jornadas de trabalho prolongadas e, muitas vezes, solidão. Mas até que ponto essa rotina impacta a saúde mental dos doutorandos? Um estudo recente feito com estudantes de doutorado na Austrália jogou luz sobre essa questão e os resultados são, no mínimo, preocupantes.
A pesquisa, publicada em 2024, investigou sintomas de depressão, ansiedade e risco de suicídio em estudantes de doutorado matriculados em universidades australianas. No total, 302 PhD students participaram do levantamento, que também avaliou os fatores que mais contribuem para o sofrimento psíquico desse grupo.
Resultados que merecem atenção
Os dados revelaram que:
45% apresentavam sintomas moderados a graves de depressão;
39% tinham sintomas de ansiedade nesse mesmo nível;
E 36% estavam em risco de suicídio.
Esses números não apenas confirmam o sofrimento psíquico de muitos doutorandos, como também superam os índices da população geral australiana — e se assemelham aos achados de estudos anteriores feitos no Reino Unido.
Quais fatores explicam esse sofrimento?
O diferencial deste estudo foi investigar não só os sintomas, mas também seus possíveis determinantes, agrupados em cinco categorias: demográficos, ocupacionais, psicológicos, sociais e relacionais. Entre todos, os que mais se destacaram foram:
Pensamentos impostores: quase metade dos participantes relatou frequentemente se sentir uma fraude, o que se associou a sintomas de depressão, ansiedade e até ideação suicida.
Perfeccionismo disfuncional: a discrepância entre os altos padrões e a percepção de não alcançá-los foi um preditor importante de sofrimento psíquico.
Solidão: foi o fator mais consistente na predição de todos os sintomas avaliados. Independentemente do tamanho ou estrutura do programa, sentir-se sozinho foi um forte indicativo de pior saúde mental.
Relação com o orientador: especialmente no aspecto da comunhão, ou seja, a cooperação e proximidade percebida na relação, também impactou fortemente o bem-estar emocional dos alunos.
Por que esses dados importam?
Embora existam muitos estudos sobre saúde mental de universitários, ainda são poucos os que focam especificamente nos doutorandos — e menos ainda que olham para a realidade australiana. O doutorado é uma etapa única, que envolve mais autonomia, pressão por produtividade e menor apoio institucional.
Além disso, os sintomas vivenciados durante o doutorado não se encerram com a titulação. Eles podem deixar marcas duradouras na saúde mental e na carreira acadêmica desses profissionais.
E o que pode ser feito?
Os autores do estudo defendem que é urgente que as universidades reconheçam os riscos específicos enfrentados pelos doutorandos e implementem estratégias eficazes para protegê-los. Entre as sugestões estão:
Combater a solidão, promovendo redes de apoio reais e funcionais;
Estimular relações de orientação baseadas na colaboração e no diálogo;
Oferecer suporte psicológico adequado, com atenção a questões como perfeccionismo e síndrome do impostor.
Reflexão final: Se você é pós-graduando ou trabalha com saúde mental na academia, vale a pena refletir sobre como essas questões aparecem no seu contexto. Afinal, cuidar da pesquisa é importante — mas cuidar de quem pesquisa é essencial.