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  • Foto do escritorTudo Sobre Pós-graduação

Como sobreviver à pós-graduação?

Se você chegou neste texto é porque está pensando em fazer, ou está fazendo, uma pós-graduação. Por pós-graduação consideraremos apenas a modalidade Stricto Sensu, ou seja, mestrado e doutorado. Deixaremos a modalidade Lato Sensu para um outro momento.


Quem opta por fazer mestrado e/ou doutorado são pessoas que desejam seguir uma carreira acadêmica, isto é, dando aulas, fazendo pesquisas, atuando em projetos, entre outras atividades realizadas nas universidades ou centros de pesquisa. No entanto, nada impede que atuem além destes nichos citados.


A pergunta de 1 milhão de dólares é: "como sobreviver à pós-graduação?"


O ENIGMA DA ESFINGE

Para falar sobre pós-graduação resolvi buscar uma figura da mitologia grega, conhecida como “Esfinge”. O mito trata de um monstro que tinha seu corpo composto de 3 partes: o corpo de um leão, as asas de uma águia e a cabeça de uma mulher.


Conta-se na história que a Esfinge se estabeleceu na estrada que ligava a cidade de Tebas, além disso, a Esfinge decidiu que por esta estrada só passaria quem solucionasse o “Enigma da Esfinge”.

Porém, a não resolução do desafio continha consequências, ao proferir o enigma a esfinge dizia a famosa frase: “Decifra-me ou te devoro”.


A utilização desta passagem se mostra pertinente no contexto da pós-graduação pelos motivos que citarei a seguir, bem como ao longo deste ensaio. Você verá, ao longo do tempo, que a pós-graduação se constituirá, independente da área, em uma série de enigmas, alguns mais complexos, outros menos, mas sempre presentes.


Estes enigmas, a priori, se darão em duas ordens.


A primeira ordem será relacionada ao seu objeto de estudos, conforme sua pesquisa avance, para cada resposta obtida várias outras perguntas serão geradas. É nesse moto perpetuo que a ciência se re-cria.


As respostas que você procura algumas vezes virão em alguns dias, outras vezes em semanas, podendo chegar a meses ou até anos. Um insight noturno, uma ideia num momento inesperado, o encontro com a peça chave do quebra-cabeças pode se dar a qualquer instante, o importante é estar preparado para saber que aquilo é uma das respostas que você procura.


A segunda ordem, talvez a mais complexa, é saber lidar com o turbilhão de situações que envolvem a pós-graduação.


Síndrome de Burnout

O pós-graduando tem que ser perspicaz para manter saudável a sua relação com: o orientador, a sua tese, consigo mesmo e com outras pessoas (colegas, amigos, namorado, família).


A não harmonia em algum (uns) destes pontos pode resultar em consequências bastante sérias.


Aqui faço a analogia da vítima sendo devorada pela esfinge por não ter compreendido e acertado seu enigma.


O que temos visto é o aumento no número de pós-graduandos não decifrando os enigmas, e por isso, sendo devorados das mais diversas formas: depressão, síndrome do pânico, crise de ansiedade, desistência do curso e da carreira, e a mais terrível de todas as formas, o suicídio. Sim, há alguns casos pelo mundo, inclusive no Brasil!


Existem uma série de sintomas, tais como tristeza, cansaço, irritabilidade, alterações do sono, alterações de peso, que caso apareçam, são sinais de que você deverá procurar ajuda profissional, eles podem indicar o início de um caso de depressão. Não hesite quanto ao pedido de ajuda.


Além disso, é preciso estar sempre conversando com a família, amigos, colegas de grupo de pesquisa e o próprio orientador. A pós-graduação é um processo árduo e por isso não deve ser solitário.


Um estudo em Berkeley (2005) descobriu que 47% dos estudantes de doutorado estiveram deprimidos em comparação com uma média de 6,7% na população adulta.


Em outro estudo, este realizado na Bélgica (2017), mostrou que 32% dos estudantes de doutorado estão em risco de ter ou desenvolver um transtorno psiquiátrico comum, especialmente a depressão.


PECULIARIDADES DA PÓS-GRADUAÇÃO

A maioria dos pós-graduandos tem entre 24 e 35 anos de idade, estão no auge de sua juventude, no entanto, parte deles têm vidas extremamente solitárias, porque suas pesquisas dependem de seu árduo trabalho.


Eles passam a maior parte do seu tempo tentando decifrar os enigmas, que os levarão a uma publicação internacional e, eventualmente, ao seu diploma.


Outras pessoas com essa mesma faixa etária estão subindo degraus em suas carreiras, namorando, se casando, tendo filhos, enquanto os pós-graduandos estão presos em um quarto cheio de literatura científica, quase que incapazes de ver a beleza do mundo à sua volta.


Eles perdem os melhores e mais vitais anos de sua vida para pesquisar, e há pouco do que podem fazer para se recuperar dessa perda.


Além disso, é preciso ter a consciência que uma pesquisa científica é inerentemente incerta, isto é, não há nenhuma garantia de que você chegará ao resultado esperado, mesmo que se dedique arduamente.


Isso torna este ramo da atividade humana extremamente difícil, até para as melhores e mais preparadas mentes. Você poderia passar 10 anos trabalhando em um problema e não conseguir encontrar uma solução.


Se o seu objeto de estudos for muito difícil, você pode ser conduzido até um ponto em que você não se sente mais competente ou digno de resolver. Ele te consome por inteiro e você não consegue ver além do fracasso que você enfrenta neste momento.


São problemas comuns em pós-graduandos

✔️ Síndrome do impostor- sentimento de não pertencimento ao meio ao qual está inserido.

✔️ Sentir-se sobrecarregado e desorganizado.

✔️ Não manter o equilíbrio entre trabalho escola família.

✔️ Síndrome de Burnout

✔️ Procrastinação.

✔️ Pânico por não conseguir realizar as tarefas necessárias.


Veja o nosso post explicando o que é a síndrome de burnout e como ela pode afetar os pós-graduandos.

 


PERCURSO DA PÓS-GRADUAÇÃO

O projeto de pesquisa é uma das primeiras etapas a ser cumprida ao se iniciar uma pós-graduação stricto sensu.


É neste projeto que o aluno terá feito uma revisão bibliográfica do que já existe na literatura científica, delineará o seu objeto de estudo e mostrará os materiais e métodos que serão utilizados por ele.


É bastante comum que ao final do projeto de pesquisa tenha uma sessão composta pelo Cronograma de Atividades. É este cronograma norteará os passos a serem seguidos até a defesa.


Salvo algumas alterações mínimas, o percurso que todo pós-graduando percorrerá é este:


✔️ Revisões bibliográficas;

✔️ Cursar disciplinas;

✔️ Coletar dados;

✔️ Tratar os dados;

✔️ Participar de eventos;

✔️ Escrever relatórios;

✔️ Publicar artigos;

✔️ Qualificar;

✔️ Escrever a tese ou dissertação;

✔️ Defesa pública para obtenção do título;


O que podemos aferir disso é que todos os alunos têm o mesmo ponto de partida (projeto de pesquisa) e o mesmo ponto de chegada (defesa), o que munda é a forma de encarar este percurso. O processo é árduo, não há atalhos, mas com planejamento e sabendo-se onde se quer chegar, sempre será menos tortuoso.


Há um determinado momento em que tudo no cronograma se choca, se sobrepõem, de repente você está no meio de um movimento caótico e que aparentemente não dará conta de resolver nada.

A quem recorrer?


O ORIENTADOR

Um professor/pesquisador, que também é um orientador, está envolvido basicamente em dois ciclos: o primeiro ciclo é o das atividades docentes e o segundo ciclo são das atividades de pesquisa. Aqui estão ignoradas as atividades burocráticas (secretarias, pró-reitorias, etc).


O primeiro ciclo não diz respeito aos pós-graduandos, são as disciplinas ofertadas na graduação e pós-graduação pelo professor. Deixemos em off.


O segundo ciclo sim, relaciona-se diretamente com mestrandos e doutorandos. A primeira coisa a ser observada é que neste ciclo não consta uma etapa relacionada a “formação de pós-graduandos”. E isso tem consequências.


O “ciclo pesquisador” têm 4 etapas:


✔️ Escrever um projeto de pesquisa;

✔️ Captar recursos para realizar a pesquisa;

✔️ Desenvolver a pesquisa;

✔️ Publicar os resultados desta pesquisa;


Realizado este ciclo, retorna-se ao ponto “escrever um projeto de pesquisa”


A lógica envolvida no segundo ciclo são duas palavras simples: “publique ou pereça”.

Sem publicar, o “ciclo pesquisador” se danifica. Parece obvio que nenhum pesquisador deixará que isso ocorra.


Assim sendo, onde um pós-graduando entra nessa história? Isso mesmo, na mesma lógica “publique ou pereça”.


Orientadores auxiliam neste percurso, como numa autoestrada em que placas sinalizam (orientam) o caminho, mas o motorista é você!


Quando optamos por uma pós-graduação (mestrado e doutorado) não temos muita ideia de onde estamos entrando, não sabemos “quem” é o orientador, o tipo de pesquisa que vamos fazer e onde ela vai chegar, às vezes não sabemos nem mesmo o que é pesquisa.

Talvez essas sejam algumas das fontes dentre tantos problemas que temos visto relacionados à pós-graduação.


Não estou aqui falando se é bom ou ruim, certo ou errado, justo ou injusto, humano ou desumano, mas sim, jogando luz numa realidade muitas vezes desconhecidas por nós mesmos.


MINHAS DICAS:


✔️ Procure informações sobre os professores, as linhas de pesquisas deles e as linhas de pesquisas dos programas de pós-graduação aos quais você tem interesse.

✔️ Estabelecida a sua relação com seu orientador, mantenha sempre contato com ele.

✔️ Todo programa de pós-graduação tem regimento, você deve se manter informado com todas as regras que regem o seu programa.

✔️ Anote tudo, tudo mesmo, conversas informais com os colegas, reuniões com orientador, faça o fichamento de livros e artigos, se você tiver um insight noturno, anote. Se transforme no maluco do post-it.

✔️ Em vez de você ter na sua agenda, ou mente, a atividade “escrever a tese”, dissipe isso em várias etapas menores, por exemplo, de tal dia até tal dia escrever a introdução, de tal dia até tal dia discutir os resultados e assim por diante. Com isso você terá etapas, metas e objetivos claros para serem cumprido! Separar uma grande tarefa em tarefas menores pode ser bastante útil!

✔️ Seja organizado, equilibre trabalho e lazer; Sua tese é importante mas não é maior do que você!


CONCLUINDO


Uma pós-graduação é uma experiência enriquecedora e permite que você desenvolva inúmeras habilidades transferíveis, que são valiosas em diferentes áreas.


Estas incluem pensamento crítico, habilidades analíticas, capacidade de trabalhar de forma independente, resolução de problemas, gerenciamento de tempo, resiliência e tantos outros.

É um investimento profissional de longo prazo, mas definitivamente não é fácil.


Fazer (ou não fazer) uma pós-graduação é uma decisão muito pessoal e muitos fatores devem ser considerados. Mas se você decidir por fazer, suas razões devem ter sentido para você.


Quem realiza uma pós-graduação inevitavelmente lida com uma multiplicidade de sentimentos (alegria, tristeza, amor, ódio, euforia, revolta, carinho, medo, etc), sendo que estes sentimentos podem ocorrer sobre diversos pontos (orientador, prazos, escrita, objeto de pesquisa, artigos) é tudo junto e misturado, podendo, inclusive, ocorrer num mesmo dia!


Eu imagino, NÃO SOU DA ÁREA, que o corpo humano não está preparado para aguentar essa quantidade de sentimentos ambíguos e conflitantes, num espaço de tempo tão curto, e é por isso que muitas vezes a gente surta! E até no próprio “surtar” teremos que lidar com essa multiplicidade de sentimentos.


Cada pessoa reage de uma forma, para alguns uma cerveja resolve, para outras assistir séries e procrastinar, outras entram em grupos e encontram um monte de gente em situação similar a sua, veem que tudo isso é uma “anormalidade normal” e estão apaziguadas.


Entretanto, para uma determinada parcela, esse fardo é muito pesado, mais pesado que ela pode ou deseja enfrentar. Neste último caso, procure ajuda, profissional de preferência, não deixe que se transforme em algo insustentável!


Tentei demostrar ao longo deste texto que não há uma regra, não há um caminho único, você precisa encontrar o seu !!! O sucesso numa pós-graduação depende do equilíbrio que você consegue estabelecer entre todas as variáveis!


Links dos estudos citados:



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